O feminicídio é o assassinato de mulheres e meninas cisgênero e transgênero por razões de gênero. Reflete sistemas de opressão patriarcais e racializados, e revela como os territórios e as paisagens socioeconômicas moldam a violência de gênero cotidiana. Nas últimas décadas, surgiram muitas iniciativas de produção de dados comunitários com o objetivo de monitorar esse fenômeno extremo, mas invisibilizado. Vinculamos os estudos sobre geografias feministas e ciências da computação com o feminismo de dados para analisar as formas como o espaço, em um sentido amplo, molda as estratégias de contraprodução de dados das ativistas que monitoram feminicídios.
A partir de um estudo qualitativo de 33 esforços de monitoramento liderados por organizações da sociedade civil em 15 países, principalmente na América Latina, fornecemos um marco conceitual para examinar as dimensões espaciais do ativismo de dados. Mostramos como existem padrões transnacionais marcantes relacionados aos lugares onde o feminicídio não é registrado, o que resulta em geografias de dados ausentes. Como resposta a essas omissões, as ativistas desenvolvem múltiplas estratégias espacializadas para tornar visíveis essas geografias, situar e contextualizar cada caso de feminicídio, reivindicar as bases de dados como espaços de memória e testemunho, e construir redes transnacionais de solidariedade. Nesse sentido, argumentamos que o ativismo de dados sobre feminicídio constitui um espaço de resistência e ressignificação das formas cotidianas de violência de gênero.
D’Ignazio, C., Cruxên, I., Martinez Cuba, A., Suárez Val, H., Dogan, A., & Ansari, N. (2024). Geographies of missing data: Spatializing counterdata production against feminicide. Environment and Planning D: Society and Space, 02637758241275961.