Narrativas midiáticas sobre feminicídios e violências de gênero são fundamentais para: (1) enquadrar essa violências como problemas sociais estruturais e sistêmicos; (2) manter casos específicos na agenda pública para pressionar por justiça; e (3) servir como fonte de dados para ativistas que monitoram essas formas de violência.
No entanto, quando a cobertura jornalística carece de uma perspectiva de gênero, pode, de forma não intencional, perpetuar danos — por exemplo, ao revitimizar sobreviventes e famílias, obscurecer causas estruturais ou contribuir para a negligência do Estado e a inação pública.
O projeto Dados Contra o Feminicídio está colaborando com o Data in Society Collective (DISCO Lab) da Brown University em um projeto que explora como a anotação colaborativa de notícias e ferramentas de inteligência artificial (IA) podem apoiar uma cobertura mais responsável e feminista de casos de violência de gênero. Trabalhando em estreita colaboração com ativistas feministas, jornalistas e pesquisadoras/es em diferentes contextos culturais, nosso projeto tem três objetivos:
- Co-desenvolver taxonomias de práticas jornalísticas tanto nocivas quanto construtivas, sensíveis a diferentes idiomas e regiões.
- Experimentar com formas coletivas e colaborativas de anotação de dados, em contraste com processos convencionais e extrativos de criação de conjuntos de dados para o treinamento de IA.
- Idealizar e co-desenhar uma ferramenta de IA para promover uma cobertura responsável de notícias sobre feminicídios.
Este projeto é uma continuação e um aprofundamento dos métodos feministas e participativos para o co-design de ferramentas de aprendizado de máquina, explorados por meio do projeto Dados Contra o Feminicídio. Atualmente, estamos trabalhando com 45 participantes de 25 países. Através de um processo de pesquisa participativo, lemos e anotamos coletivamente artigos de notícias para construir um repositório de práticas jornalísticas nocivas e construtivas na cobertura de feminicídios em diferentes contextos.
Com esse conjunto de dados, também iremos idealizar e co-desenhar potenciais ferramentas de IA para apoiar a produção de reportagens feministas e contextualizadas — desde um assistente de escrita que sinaliza enquadramentos problemáticos até uma ferramenta interativa que capacite leitores/as de notícias e grupos ativistas a auditar e contestar coberturas jornalísticas.